No Brasil, a sociedade tende a menosprezar o educador que trabalha na etapa inicial de ensino. Muitos ainda acreditam que é apenas "brincar" com crianças na escola.
A educação infantil vai muito além do “só brincar”. É uma fase essencial para o desenvolvimento. Exatamente por isso, o profissional que conduzirá a turma deve ter preparo suficiente para lidar com uma tarefa de tamanha responsabilidade.
Apesar disso, no Brasil, segundo dados do Censo Escolar, 35,6% dos professores que atuam em creches estudaram só até o ensino fundamental ou ensino médio. Dentre aqueles que concluíram cursos universitários, apenas 89 fizeram doutorado, com maior concentração na região Sudeste (56 docentes). No Nordeste, apenas 6 alcançaram esse nível acadêmico.
Nos demais anos da educação infantil, a porcentagem é semelhante: 33% dos professores não têm curso superior. Do total de 313.669 docentes dessa etapa de ensino, apenas 132 têm doutorado – estando mais de metade deles (54%) no Sudeste.
Para o Aldeir Rocha, gestor de serviços educacionais da Edições SM, o professor que atua na educação infantil e que não recebeu formação adequada não terá, em geral, as ferramentas necessárias para desenvolver os objetivos da escola nessa etapa de ensino. “As aulas ficam restritas à espontaneidade. Precisamos de pessoas capacitadas para que as crianças se desenvolvam da forma adequada”, diz.
Ele cita alguns desafios que os professores enfrentam na educação infantil – e que requerem a formação em pedagogia:
1- Saber colocar intencionalidade educativa nas brincadeiras e no convívio entre todos, para que mais habilidades sejam desenvolvidas;
2 - Conhecer os objetivos da etapa de ensino e conseguir organizar o processo escolar para dar conta de todos esses eixos. O professor lembra que, pela primeira vez, com a Base Nacional Comum Curricular, teremos um documento que especifique, em detalhes, as metas da educação infantil;
3- Conseguir elaborar atividades adequadas à idade de cada criança e aos objetivos de aprendizagem a serem atingidos;
4 - Fazer uma observação sistemática de cada criança, para monitorar o desenvolvimento dela;
5 - Registrar a trajetória de cada aluno e refletir sobre os efeitos das práticas de ensino;
6 - Saber rever o próprio trabalho e, quando necessário, mudar a estratégia pedagógica.
Somente em 2009, com a aprovação da Emenda Constitucional nº 59, é que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação passou a tornar obrigatória a matrícula de crianças de 4 a 5 anos. As mudanças começaram a ser sentidas na prática em 2016, prazo final para que os estados e municípios se adaptassem à nova norma.
A conselheira vitalícia da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Irene Maluf, afirma que as políticas públicas devem se preocupar com a formação de quem irá recebê-las.
“Se houvesse esse cuidado, teríamos alunos mais preparados futuramente. O investimento na primeira infância é saúde mental, saúde social. É garantir geração capaz e autônoma, que pode levar o país para frente”, afirma.
“Em alguns países europeus, o professor de pré-escola precisa ter graduação e experiência por muitos anos antes de assumir uma turma. Na Alemanha e na Finlândia, todos têm uma fundamentação teórica enorme na pedagogia para poder começar a trabalhar com as crianças. Isso porque o que é feito na infância não dá para remendar depois, nem substituir”, diz Irene.
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