Faye Johnson-Smith achou que era bom demais para ser verdade quando seu chefe disse que ela poderia tirar folga todas as quartas-feiras sem redução no seu salário.
Sua empresa participou de um teste de seis meses sobre os custos e benefícios de se reduzir a semana de trabalho a apenas quatro dias, mas mantendo o pagamento integral.
Como a maioria dos trabalhadores, Faye se sentiu mais saudável e feliz por trabalhar menos horas.
Ao final do período de testes, não eram apenas os funcionários que aprovaram a novidade. Quase todos os 61 empregadores também estavam interessados em manter o novo padrão de trabalho.
O esquema, que funcionou entre junho e dezembro de 2022, envolveu empresas em todo o Reino Unido e de todos os tipos — como cervejarias, restaurantes, empresas de software e agências de recrutamento.
Um relatório sobre os resultados do teste afirma que o regime de quatro dias de trabalho por semana traz "grandes benefícios", especialmente para o bem-estar dos funcionários.
Os autores do relatório argumentam que o teste pode desencadear mudanças de atitudes — e que em breve todos no país poderão vir a ter um dia de folga no meio da semana ou um fim de semana de três dias.
Faye trabalha como supervisora da entidade Citizen Advice, na cidade de Gateshead, onde cerca de 200 funcionários participaram do esquema.
Ela diz que o dia extra de folga lhe dá tempo para "se recuperar".
Como resultado, ela volta ao trabalho "pronta para a correria". Segundo Faye, ela faz tanto, ou até mais, em seus quatro dias do que costumava fazer em cinco.
Sua colega, Bethany Lawson, diz que acha mais fácil gerenciar sua equipe agora que a maioria trabalha quatro dias por semana. Ela também diz que consegue se empenhar mais, graças ao dia extra de folga.
Mas para a semana de quatro dias com pagamento integral funcionar no país todo, os empregadores precisarão ver ganhos de produtividade.
Os trabalhadores precisarão criar em quatro dias os serviços e produtos que estavam criando em cinco, para que isso renda dinheiro suficiente para pagar o salário de uma semana inteira de trabalho.
Esse tipo de crescimento da produtividade tem sido um desafio para a economia do Reino Unido. Nos últimos anos, o país foi ultrapassado por muitas outras nações ricas na quantidade de valor criado por trabalhador. Há diversas explicações sobre o porquê disso e como se poderia consertar esse problema.
Os autores do relatório argumentam que, embora o teste tenha ocorrido entre as empresas — e que, portanto, estavam mais propensas a fazer o esquema funcionar — os resultados são um forte argumento para uma semana de trabalho mais curta.
"Não temos um controle firme sobre exatamente o que aconteceu com a produtividade, mas sabemos que em uma variedade de outras métricas — receita, rotatividade [da força de trabalho], auto-relatos de produtividade, bem-estar dos funcionários, e custos — tivemos resultados muito bons", diz Juliet Schor, do Boston College, uma das instituições acadêmicas por trás do teste, ao lado das universidades de Oxford e Cambridge.
Embora a maioria das empresas participantes dissesse estar satisfeita com os resultados de produtividade e desempenho, apenas 23 forneceram dados financeiros sobre as receitas. Mas isso é um indício de que as receitas permaneceram praticamente as mesmas durante os seis meses do teste.
Das 61 empresas que participaram, 56 disseram que continuariam com a semana de quatro dias, pelo menos temporariamente. Mas 18 delas disseram que a mudança seria permanente.
Tyler Grange, uma consultoria sobre meio ambiente com seis escritórios na Inglaterra, é uma das empresas que resolveu adotar a semana de quatro dias.
O diretor da empresa, Simon Ursell, admite que o primeiro mês do teste foi "um pouco tenso".
Ele conta que não queria simplesmente comprimir em quatro dias o trabalho que estava sendo feito em cinco, porque isso colocaria a equipe sob muita pressão.
O seu plano era acabar com reuniões e viagens desnecessárias. Mas, no final, foram os próprios funcionários que encontraram formas de serem mais eficientes.
"Se você der às pessoas esse incentivo incrível de um dia inteiro por semana, elas vão trabalhar muito para fazer tudo funcionar", diz ele.
Agora, diz ele, sua equipe está produzindo 2% a mais em quatro dias do que costumava fazer em cinco. E a equipe está mais feliz. As ausências no trabalho diminuíram em dois terços e a Tyler Grange está sendo inundada com currículos de candidatos que querem trabalhar lá.
Esses resultados refletem as conclusões gerais do relatório: que os funcionários estavam muito menos inclinados a ficar doentes e mais inclinados a permanecer com o empregador, reduzindo os custos de recrutamento e tornando mais valioso o treinamento de pessoal.
No entanto, os resultados não foram tão claros para todas as empresas.
A Citizens Advice, onde Faye trabalha, ainda não está pronta para adotar a semana de quatro dias.
A executiva-chefe Alison Dunn diz que a instituição de caridade encontrou muitos benefícios na semana de trabalho mais curta, incluindo menos desgaste entre seus funcionários, que estão sob muita pressão por causa da atual crise econômica.
"O esquema funcionou na maioria dos nossos negócios", diz ela. "Mas há algumas áreas onde ainda não está claro o quão eficaz seria [ter uma semana de quatro dias]."
Um setor onde é difícil implementar a semana de quatro dias de trabalho é a central de contatos, que já possuía métricas rígidas e metas difíceis de se cumprir. Nessa área, o Citizens Advice teve que arcar com o custo de contratar mais funcionários para permitir que todos trabalhassem apenas em quatro dias da semana.
Dunn espera que o investimento extra seja eventualmente compensado por uma redução nos custos de recrutamento, retenção e doença, Mas tudo isso ainda é "um trabalho em andamento", diz ela, com uma revisão prevista para abril.
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